Mas nenhum retorno é tão fácil assim.
Houve aquela época em que eu escrevia todos os dias. E dessa rotina vinham os meus amigos escritores. E a passagem do tempo era mensurada pelas datas das publicações de textos.
Era simplíssimo. Como se os pensamentos manifestassem as palavras escritas e como se cada respiração concebesse uma nova pausa por pontuação em meio de tantas palavras.
Entretanto parece que não é tão fácil assim.
Por muitas vezes eu tentei voltar e por muitas vezes eu tentei partir.
Hoje mesmo sonhei que estava na escola. Como se tivesse retornado, mesmo depois de formado, apenas pelo simples ato de reviver algo que nunca mais pode voltar.
Amigos, professores e até o desespero de não saber responder uma simples prova de biologia.
Quase na mesma época, eu vivia tocando guitarra e a música era para mim o que já foi a escrita.
Também tentei voltar, mas logo as melodias se tornavam um vazio em minha mente. Os solos já não excitavam e eriçavam os pelos dos meus braços. Minha alma não pedia por mais um BIS.
Até mesmo o coração parece estranhar e se indaga o porquê quando me deparo com todos os amores que ocupavam boa parte dos meus pensamentos juvenis.
Por muitas vezes eu tentei voltar e então eu entendi.
Que a alma que compõe o nosso EU vive em constante mudança e requer seguir em frente.
Que mesmo gostando de todas as mesmas coisas que já gostei, nada daquilo ressoa de forma harmoniosa dentro dos novos contextos e cenários que vivemos em nossas novas vidas.
Que tão importante quanto viver novas experiências é deixar partir.
A vida é feita de escolhas, todo mundo sabe disso.
Porém as vezes não fica claro que escolhas significam sacrifícios.
Então sempre que escolher ir ou vir, saiba que algo precisa ficar para trás.
E depois que partimos, é muito difícil de voltar.
Mas eu voltei.
