O acúmulo mental dos inquietos

Ryo
2 min readAug 31, 2022

Sempre me perguntei se isso acontece com todo mundo.

Quando algo me irrita, aquilo me importuna por muito mais tempo do que eu gostaria.

O pensamento deixa de ser o fim para se tornar a causa. Toma controle e, não só reavive o que me irritou , seja uma frase ou uma atitude, como começa a criar discussões automáticas, simuladas pela minha própria mente.

Sem perceber, o vilão e o mocinho se tornam uma só pessoa, dividida entre duas personalidades, simulando o eterno embate entre o certo e o errado.

Mas não é só com pensamentos irritantes que isso acontece.

Percebo que algumas ideias, mesmo que cotidianas, são mais persistentes do que deveriam.

Como quando fico esperando um pacote que vem da China, mas que está datada para o mês que vem. Ainda assim me pego acessando o site da compra, diariamente, apenas para ver se houve alguma atualização.

Ou quando existe algum afazer simples, mas que acaba se tornando um pensamento persistente até que seja realizado, interrompendo outras atividades apenas para que você não se esqueça — “preciso ir no mercado comprar molho de tomate. Ah! E também comprar cebola… mas como era a ideia do roteiro de hoje mesmo?”.

Em todos esses casos, dignos de uma pessoa ansiosa (ou ansiosa por nutrir esse tipo de pensamento?), percebi que existe uma cura bem simples.

A escrita.

Escrever é como remover um pensamento do sutil e trazê-lo para a materialidade.

Talvez a minha mente trate os pensamentos como borboletas que estejam prestes a sair voando por aí, para nunca mais serem vistas. E, por saber que estas fagulhas mentais possuem a sua importância, inicia-se o processo de ruminação mental para que nada se perca.

Mas escrever acaba ancorando as vozes incessantes, dando um ponto final naquela história que outrora parecia não ter fim.

A discussão se dá por encerrada. Os trolls da internet finalmente foram refutados. Você está certo. Sua ideia genial está guardada para as futuras gerações. O molho de tomate será comprado. E a compra da china vai chegar quando tiver que chegar.

Escrever é como um depósito para as mentes inquietas. Mentes que presam tanto suas ideias que não ousam deixá-las fugir.

E não é apenas isso.

Em cada letra digitada deixamos um pedaço de nós mesmos para os outros. Deixamos de ser efêmeros para trazer, mesmo que um pouco, a imortalidade dos deuses para a nossa existência terrivelmente insignificante perante o incognoscível.

Os fantasmas dos pensamentos podem finalmente encontrar o seu descanso. E eis a sua lápide.

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Ryo

Aprendi a direcionar a minha preguiça para o bem da humanidade! Te ensino a fazer o dobro de coisas derrubando a metade do suor. Vem: http://www.thiagoryo.com